Cientistas estudam espécie rara de macaco no cerrado do Centro-Oeste
Animais vistos em Pitangui são típicos da Mata Atlântica.
Desmatamento é apontado como motivo de fuga.
Desmatamento é apontado como motivo de fuga.
Macaco sauá avistado na região de PitanguI (Foto: Frederico Pahlm/Arquivo pessoal)
Uma espécie de macaco ameaçada de extinção tem chamado
atenção de cientistas no Centro-Oeste mineiro. Batizado de Callicebus
nigrifrons, o animal
é típico da Mata Atlântica e do cerrado. Mas, o desmatamento nessas regiões tem
forçado a espécie a se refugiar na área de transição entre esses dois biomas.
Norberto Lobato, coordenador da agência do Instituto
Estadual de Florestas (IEF) em Pitangui, disse ao G1 que já viu muitos deles perto da
cidade. "Não é difícil encontrar a espécie na região, principalmente ao
amanhecer, que é quando os macacos começam a busca por alimentos. Eles entram
na cidade pelas árvores, em busca de frutas nos quintais. Outro dia avistei um
em um pé de manga. Até tirei fotos", contou.
Ao saber disso, o biólogo Eduardo José Azevedo decidiu
conferir de perto. Ele sabia que os primatas estão entre os mamíferos mais
ameaçados da Mata Atlântica por causa do desmatamento, de incêndios e da
fragmentação das famílias. "Dentre as 23 espécies de primatas que ocorrem
na Mata Atlântica, 15 estão enquadradas em alguma categoria de ameaça de
extinção", disse.
Eduardo queria estudar o comportamento da espécie na
região e contribuir para a proteção dos animais. Para isso, visitou a fazenda
experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que
fica em uma área de preservação permanente, perto do Rio São João. O desafio
era conseguir chamar a atenção dos animais. "Vi que eles ficam o tempo
todo quietos, na deles. Quando aparece alguém fazendo barulho, eles reagem e se
espalham", comentou.
A solução apareceu em março de 2014, quando Eduardo era
um dos professores que compunham uma banca de pesquisa no campus do Instituto
Federal de Minas Gerais (IFMG) em Bambuí. O biólogo e especialista em primatas
Frederico Pahlm contou sobre seu trabalho de conservação de espécies ameaçadas
de extinção.
Frederico sugeriu a Eduardo que usasse gravações do som
emitido pelos macacos da espécie para atraí-los. Ideia que foi bem recebida. As
observações de campo ocorreram em agosto e setembro do ano passado. "Levei
um notebook com áudios dos gritos e grunhidos de macacos. As sessões de
playback eram iniciadas a cerca de dez metros da borda, em direção ao rio. Após
o surgimento de um indivíduo do grupo, o estímulo foi mantido. Aproveitei para
registrar, através de fotografias", explicou Eduardo.
Foram feitos cerca de dez testes de vocalização. Após o
som ser emitido durante 15 minutos, indivíduos adultos da espécie apareceram e
começaram a vocalizar também - ou seja, os macacos responderam aos sons
emitidos pelo computador. A resposta dos animais foi toda gravada em áudio.
Frederico Pahlm afirmou que o risco de extinção da
espécie é alto. "Principalmente devido à diminuição da variabilidade
genética e risco de endogamia, que é o cruzamento entre indivíduos de
parentesco próximo, causando vários problemas genéticos", explica.
Instalar rastreadores nos animais é um tipo de prática
comum entre os biólogos que trabalham com proteção de espécies. "Mas os
sauás têm um pescoço curto e isso machuca e os atrapalha na vida livre. Eu
trabalho com habitação natural de grupos. No caso, os macacos vão me observando
em seu habitat por todo o dia, a toda hora, até se acostumarem com minha
presença. Com a detecção de grupos, espero que a comunidade científica se
envolva na conservação da espécie ameaçada", comentou.
Fiscalização
Em nota ao G1, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que não desenvolve nenhuma ação de proteção do macaco sauá. Esse trabalho fica a cargo do ICMBio, que é responsável pela elaboração de planos de ação para conservação de espécies ameaçadas de extinção.
"O processo de elaboração, monitoria e revisão
adotado, instituído pela Instrução Normativa ICMBio é baseado no planejamento
estratégico e estabelece um método simples e robusto que pode ser aplicado em
todos os níveis taxonômicos ou geográficos. Estes níveis podem incluir uma
única espécie, grupos ou conjuntos de espécies e subespécies individuais, bem
como em âmbito global, regional ou nacional", informou o órgão.
O responsável pelo IEF em Pitangui explicou que o órgão
tem a atribuição de definir áreas adequadas para a soltura de animais que forem
apreendidos. "Já está sendo verificada a determinação de uma área
segurança na região Centro-Oeste para a soltura de animais que forem capturados
ou encontrados em cativeiro", finalizou Norberto Lobato.
http://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2015/02/cientistas-estudam-especie-rara-de-macaco-no-cerrado-do-centro-oeste.html
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